Neste 31 de maio é o Dia do Espírito Santo, o terceiro símbolo que, ao lado do Pai e de Deus Filho, formam a Santíssima Trindade. Em Uberlândia, este título foi regionalizado e ganhou endereço: Paróquia Espírito Santo do Cerrado, erguida no bairro Jaraguá, um loteamento lançado pela ITV Urbanismo em 1964. O nome e o projeto da igrejinha, como é carinhosamente chamada, são de ninguém menos do que da arquiteta italiana Lina Bo Bardi, responsável também pelos mais importantes edifícios do Brasil, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Sesc Pompéia.
A paróquia é a única obra de Lina Bo Bardi em Minas Gerais e a única igreja feita por ela em todo o mundo. Pela importância arquitetônica, o local virou ponto turístico de amantes da arte e da arquitetura moderna vindos de vários países. A igrejinha foi tombada como patrimônio histórico pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico Artístico (Iepha-MG) em 1997, cinco anos depois da morte de Lina.
A arquiteta italiana, naturalizada no Brasil, conheceu Uberlândia por meio do artista plástico Edmar de Almeida, nascido em Araxá, mas com a família residindo em Uberlândia. Eles haviam sido apresentados em São Paulo, pelo amigo em comum, o cenógrafo, artista plástico e arquiteto Flávio Império. Antes de surgir a ideia da igreja, Lina Bo Bardi veio a passeio a Uberlândia, onde passou uns dias no Sítio Santo Antônio da mãe de Edmar, a dona Aurora. Lá, ela viu pela primeira vez as espécies do Cerrado que só conhecia nos livros de botânica.
Dona Aurora, por sua vez, era ministra na ordem terceira e amiga de Frei Egídio e Frei Fúlvio, que foram também apresentados a Lina em Uberlândia. Como eles já tinham o sonho de construir um templo simples na cidade, dentro dos preceitos da ordem franciscana, juntou-se o útil ao agradável. A arquiteta, nascida em Roma, bem ao lado do Vaticano, resistiu ao convite no início, devido a algumas ressalvas contra a igreja católica, mas acabou convencida ao saber da atuação política do também italiano Frei Egídio.
Os quatro lotes no Jaraguá foram comprados pela Ordem Franciscana do advogado Samuel Vital, que havia adquirido os terrenos da ITV Urbanismo, no início do loteamento. Samuel também era amigo do Frei Egídio. Ele conta que o conheceu quando foi procurá-lo para fazer uma confissão, quando fazia Exército. “O Frei Egídio tinha chegado um dia antes do Brasil e não falava uma palavra em português. Como eu fiz seminário e aprendi italiano, eu o ensinei o português e viramos amigos. Depois de muitos anos, eu já era casado, e precisei vender os terrenos e ele me comprou”, disse Samuel.
Na época, o Jaraguá era um bairro de periferia, sem asfalto, bem diferente de hoje. Os principais clientes da ITV que adquiriram lote no local eram pessoas vindas de outras cidades para Uberlândia em busca de emprego. Antes da igrejinha, eles assistiam as missas em um barraco de tábua erguido dentro do quartel do Exército, construído em uma área doada pela ITV. Como o local já havia sido definido, se deu o início dos trabalhos para se conseguir erguer a igreja. Na época, foi constituído um Conselho de Construção e conseguiu-se uma ajuda financeira da organização Adveniat, sediada em Essen, na Alemanha.
Entre 1975 a 1981, Lina Bo Bardi esteve várias vezes em Uberlândia para acompanhar a obra. Escolheu os materiais, pensou nos detalhes e trabalhou ao lado dos mestres de obra e operários. “Era um coisa linda de ver, homens e mulheres da comunidade do Jaraguá se reuniam em mutirão nos sábados e domingos para ajudar na obra”, disse o artista plástico Edmar de Almeida.
A obra foi concluída em 1982 e teve como primeiro pároco o Frei Fúlvio Sabia. Até o final dos anos 80, servia de moradia para padres Franciscanos e irmãs Clarissas, até ser doado, em 1993, a Cúria Arquidiocesana de Uberlândia.
Hoje a igrejinha redonda de tijolo aparente no alto da rua dos Mognos é um espetáculo, mesmo nesse tempos de pandemia, quando está fechada. E a ITV Urbanismo se orgulha, de alguma forma, de fazer parte dessa história tão importante. Viva o Espírito Santo!